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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 2, número 4, dezembro de 1999
Editorial
Artigos
A entrada do chiste na cena analítica
(The entry of the wit in the analytic scene)
Luciana Balbo
O artigo se utiliza do dito espirituoso freudiano para refletir sobre algumas questões do ato analítico. O exemplo clínico apresentado se presta a uma ilustração prática de uma possível estrutura chistosa do ato analítico.
De forma sintética discute-se os pontos de interesse da compreensão freudiana sobre os chistes para uma aproximação da noção de ato analítico. O caso clínico é retomado, com o intuito de funcionar como uma espécie de linha, que vai costurando os aportes teóricos apresentados ao longo do texto. Lacan é mencionado, no sentido de ampliar a visão sobre os chistes e incluir a noção de chiste como um ato de sentido.
Palavras-chave: Psicanálise, chiste, ato analítico, Transferência
Walter Benjamin, Marcel Proust e a questão do sadismo
(Walter Benjamin, Marcel Proust and the question of sadism)
Ernani Chaves
O presente texto procura analisar a interpretação que Walter Benjamin faz da questão do sadismo na Recherche, de Marcel Proust, a partir das referências explícitas de Benjamin ao Além do princípio do prazer. Afastando-se tanto de uma interpretação “psicobiográfica” como da própria idéia proustiana de sadismo, Benjamin, recorrendo a Freud, pode oferecer uma interpretação tão instigante quanto complexa de uma das obras de literatura mais importantes e mais comentadas do nosso século. Nesta perspectiva, o que a interpretação de Benjamin destaca não são as famosas cenas de sadismo da Recherche, mas a “curiosidade” insaciável e, no limite, sadomasoquista, do “narrador”. Transpondo tal interpretação para o campo da análise da cultura, Benjamin acaba por revelar os traços radicais da crítica social em Proust: a “pulsão de morte” como organizadora das relações sociais na sociedade capitalista.
Palavras-chave: Narração, curiosidade, sadismo, pulsão, desejo de saber
Considerações sobre o diagnóstico em psicanálise
(Considerations on the diagnosis in psychoanalysis)
Theodor S. Lowenkron
O psicanalista deve se preocupar em fazer diagnóstico para realizar um tratamento psicanalítico? Seria desaconselhável o interesse do analista pelo diagnóstico, pois estaria “rotulando” seu paciente e prejudicando o futuro do processo analítico? Eis duas posições que podem ser aparentemente opostas, mas que se fazem presentes no cotidiano da prática na clínica psicanalítica. Será que essas posições podem influenciar a psicanálise do novo século?
Para introduzir o debate sobre o tema, apresento, de modo breve, o ponto de vista de Freud sobre a questão do diagnóstico em psicanálise, lanço mão de um caso clínico para exemplificar o exercício do diagnóstico psicanalítico, articulado com a contribuição de alguns autores para a compreensão do caso clínico em particular.
Há unanimidade entre os analistas de que a palavra é ferramenta essencial na tarefa terapêutica. Ela também deve ser considerada básica para a nomeação do sofrimento humano, para melhor encontrarmos, juntos com o paciente, a saída possível das trevas de seu mal-estar.
Palavras-chave: Processo psicanalítico, diagnóstico, caso clínico.
O que é phatos?
(What is pathos?)
Francisco Martins
Por intermédio do estudo da etimologia do termo pathos é apresentado as transformações e sentidos que as concepções concernentes tomaram ao longo do tempo. Inicialmente é mostrado que pathos tomou o sentido principal atual de doença, mal-estar. Porém, é logo esclarecido que pathos na sua origem é prin-cipalmente disposição afetiva fundamental, conforme a leitura de Heidegger. É mostrada a importância de pensar a psicopatologia e toda ou qualquer clínica como sendo relacionada à disposição. Neste sentido, a concepção kantiana de pathos como paixão que o sujeito está assujeitado é uma das maneiras que pode tomar a disposição afetiva fundamental. Acrescenta-se que o pathos cartesiano que domina o homem moderno e o fazer clínica como sendo daquele homem que duvida e busca então a certeza diferentemente do pathos grego dominado pelo espanto e pela discursividade. Pathos é pensado como sendo algo inerente ao ser humano e por isso mesmo qualifica o estudo de tudo o que diz respeito a este termo como sendo algo próprio do humano.
Palavras-chave: Psicopatologia, ontologia, etimologia, disposição
O incesto e as ocorrências incestuosas: notas de referências
(The incest and incestuous occurrences: reference notes)
Aluisio Pereira de Menezes
O texto trata das significações do termo “incesto” no interesse da teoria e da clínica psicanalíticas. Procura situar uma certa diversidade de significações do que estaria em jogo, essencialmente, na conceituação e nas ocorrências incestuosas. Traz um mapeamento esquemático das idéias mais imediatas que balizam o entendimento das ocorrências incestuosas.
Palavras-chave: Incesto, psicanálise, abuso sexual, cultura
O desejo na Grécia Arcaica
(Desire in Ancient Greece)
Zeferino Rocha
O presente trabalho é a primeira parte de uma pesquisa sobre “O desejo na Grécia Antiga”, vale dizer, na Grécia Arcaica, na Grécia Clássica e na Grécia Helenística. Esta primeira parte é dedicada às manifestações do desejo na Grécia Arcaica, que floresceu entre os séculos VIII e VI a.C. Analisei, em primeiro lugar, a noção do thymós, como manifestação, ainda embrionária, do desejo nos poemas épicos do tempo de Homero; em seguida, destaquei o lugar do desejo na poesia lírica, na qual os poetas já falam a linguagem de seus próprios sentimentos; depois, ressaltei o papel do desejo na ética aristocrática da moderação inspirada pelas máximas dos sete sábios da Grécia. Nos poemas trágicos, indiquei a dimensão ética que reveste o desejo na responsabilidade do homem trágico diante das conseqüências de seus atos. Finalmente, dentro ainda do espírito que dominou a cultura arcaica, mostrei o lugar que o desejo ocupa no pensamento dos primeiros filósofos da Natureza, especialmente nos fragmentos de Heráclito de Éfeso e na doutrina do pitagorismo antigo.
Palavras-chave: Desejo, Grécia Arcaica, ética, pensamentos
A cordialidade como mal-estar ou a violência como o recalcado
(Cordiality as discontent or the violence as repressed)
Mériti de Souza
Neste estudo problematizamos a constituição da subjetividade orientada pelo discurso que adota o mito do brasileiro cordial como modelo identificatório. Utilizando do referencial psicanalítico, analisamos discursos presentes na história nacional que abordam essa questão, interrogando sobre o recalque da violência e suas con-seqüências sobre a subjetividade. Avaliamos que o discurso da cor-dialidade funciona como forma de controle e de manutenção do status quo, ao gratificar e oferecer uma representação pretensamente valorizada do brasileiro. Ainda, esse discurso produz o recalque da violência e o seu retorno sob a forma de domínio, ou seja, de exercício do controle sobre o coro e o desejo do outro, manifesto nas práticas de dominação social e sexual. Os modelos identificatórios da cordialidade e do domínio, funcionam como extremos complementares, associados ao recalque da violência. Finalizando, perguntamos sobre as práticas psicoterápicas e psicanalíticas desenvolvidas no cenário nacional, a partir da inserção de psicoterapeutas e psicanalistas nesse contexto cultural.
Palavras-chave: Cordialidade, recalque, modelo identificatório, violência
Um caso para la clínica de las psicosis: Vaslav Nijinsky. Um caso paradigmático de la investidura narcisista del cuerpo y del devenir psicótico
(A case for the clinic of psychosis: Vaslav Nijinsky. A paradigmatical case of narcisistic investiture of the body and of the psychotic future)
Nafia Marianne Laurence Bahena Yaghen-Vial
Este artigo assinala a transcendência da obra do deus da dança, aquele que revolucionou a visão que se tinha da técnica clássica do balet para se transformar no pai da dança moderna.
Nossa análise parte do núcleo familiar onde se gesta a loucura, ao mesmo tempo que é um ponto de partida para compreender a transmissão da dança como um espaço de contenção e sublimação dos impulsos de morte en Nijinsky. Mesmo assim, é abordado seu único testamento escrito em estado delirante. Finalmente faz-se menção à hospitalização.
Palavras-chave: Dança, delírio, corpo, sublimação
Clássicos da Psicopatologia
ARTIGO:
De uma hereditariedade não-fatalista: o “endógeno” e o Typus melancolicus, segundo Tellenbach
(About a non-fatalistic heredity: the “endogenous” and the Typus melancolicus, according to Tellenbach)
Mario Eduardo Costa Pereira
ENSAIO:
A endogenidade como origem da melancolia e do tipo melancólico
(The endogenous as the origin of melancholia and of the melancholic type)
Hubert Tellenbach
Resenhas de livros
A quimera de uma outra medicina
(The chimera of another medicine)
Rogério Pires
Metamorfose entre o sexual e o social
(Metamorphosis between the sexual and social)
Maria Cristina Figueira Louro
Resenha de Artigos
Estudo The Lancet analisa as relações entre as grandes pesquisas sobre eficácia terapêutica e a prática clínica
Mario Eduardo Costa Pereira
Clinical trials, consensus conferences, and clinical practice.
A. Sniderman
The Lancet, vol. 345, July 24: 327-329. 1999
Sobre a confiabilidade dos estudos transgênicos
Mario Eduardo Costa Pereira
Caprices de souris transgéniques
M. Enserink
La Recherche, 323: 36-37, septembre 1999
A psicopatologia de Nobre de Melo revisitada
Mario Eduardo Costa Pereira
Revisitando a psicopatologia: uma leitura da tese “Psicopatologia da reação esquizofrênica” de A. L. Nobre de Melo
N. Marins
Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 48 (6): 275-280, 1999
Identificando processos psicopatológicos nucleares?
Mario Eduardo Costa Pereira
Toward the identification of core psychopathological process?
H-U. Wittchen, M. Hofler & K. Merikangas
Archives of General Psychiatry, vol. 56, n 10, Octuber 1999