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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 2, número 2, junho de 1999
Editorial
Artigos
A drugstore de Platão (os psicofármacos)
(Plato’s drugstore [the psychopharmacons])
Rubens Coura
A partir do livro A farmácia de Platão, de Jacques Derrida, é rastreada, nos próprios textos platônicos, a admiração daquele filósofo grego pela então incipiente medicina hipocrática: ela se harmonizava com o método dialético de Platão, em oposição à estreiteza do método sofista, que se compunha melhor com a medicina pré-hipocrática dos charlatães curandeiros.
Chega-se ao phármakon hipocrático, com suas primitivas e atuais propriedades de Droga, de Tintura, de Escritura e de Objeto Numinoso. E na atual Drugstore, que veio usurpar o tradicional espaço da farmácia, o phármakon ainda vem se mantendo como tal e não se esvazia na categoria inerte de um simples product; mas isso ocorre apenas através dos esforços da propaganda maciça, de exorbitâncias da pesquisa científica e da precariedade da maioria dos atendimentos médicos da atualidade.
Também na psicofarmacologia, são muitas as modificações (patoplásticas) geradas pelas mutilações contemporâneas sofridas pelo phármakon; entre elas, o autor destaca que os phármakons antidepressivos podem propiciar, no reequilíbrio pulsional que favorecem, apenas uma espécie de “adiamento” da destruição e do triunfo sobre o objeto perdido no melancólico – não parecendo influir, apesar da aparente melhora no quadro clínico, na força sádica destrutiva do sujeito.
Palavras-chave: Psicopatologia, psiquiatria, psicofármacos, pharmakon.
Convergências e divergências nas teorias do narcisismo de Kohut e de Lacan
(Convergences and divergences in Kohut and Lacan narcisism theories)
Luciana Gageiro Coutinho
Kohut e Lacan construíram teorias bastante críticas em relação à teoria do ego autônomo de Hartmann, caracterizadas justamente por partirem de questões referentes ao narcisismo enfatizado no que diz respeito à sua estreita relação com o registro objetal. No entanto, as teorias de Kohut e de Lacan baseiam-se em certos princípios teóricos e clínicos divergentes.
Palavras-chave: Narcisismo, Kohut, Lacan, metapsicologia
Transtorno borderline: história e atualidade
(Borderline disorder: history and actuality)
Paulo Dalgalarrondo e Wolgrand Alves Vilela
No presente trabalho é feita uma revisão histórica e psicopatológica do distúrbio borderline. O autor sugere que a categoria clínica introduzida por Kahlbaum, em 1890, “heiboidophenie”, pode ser considerada como um protoconceito na origem do conceito de transtorno borderline. No final dos anos 70 e 80, sob a influência do DMS-III, a esquizofrenia latente ou borderline se transformava em dois subtipos de transtorno de personalidade: borderline e esquizotípico. Alguns aspectos psicopatológicos do Transtorno de Personalidade Borderline são revistos, com especial ênfase sobre os sintomas afetivos e as alterações no plano das relações interpessoais.
Palavras-chave: Transtorno de personalidade borderline, esquizofrenia latente, história da psicopatologia.
Agorafobia. Uma tópica evanescente
(Agorafobia: An evanescent topic)
Carlos Alberto Pegolo da Gama
Este trabalho tem o objetivo de situar o momento de instauração do sintoma agorafóbico. Através da noção de Ágora grega e de algumas contribuições da fenomenologia da percepção, tentamos povoar o espaço, tão temido pelo sujeito, com fantasmas ligados à sua própria subjetividade.
Palavras-chave: Agorafobia, Ágora, percepção, subjetividad.
Observando o invisível: uma epistemologia psicanalítica
(Observing the invisible: a psychoanalytic episthemology)
Andréa Linhares
Partindo da imagem da dissecação de cadáveres, considerada como “cena primitiva” da ciência moderna, o presente artigo propõe indicar uma especificidade da observação em psicanálise por meio do paradigma do sonho, espaço, não mais do visível, mas do visual e do alucinatório. Nesta configuração, a observação se encontra intrinsecamente ligada à experiência transferencial. A autora atenta, então, para os laços transferênciais que ligam pesquisador e objeto de estudo, numa analogía entre a investigação científica e a situação analítica.
Palavras-chave: Observação, sonho, transferência, psicanális.
La psicopatología perdida
(The lost psychopathology)
Carlos Maffi
A oposição adulto/infantil de Freud, concerne, por um lado, à vida sexual (sexualidade infantil/sexualidade adulta), por outro, às capacidades cognoscitivas (teorias infantisl/teorias adultas). As neuroses são a expressão conjunta dos dois pólos infantis. A saúde, seu oposto.
Por razões distintas, as principais correntes pós-freudianas dissolvem esta oposição, remarcando o caráter repetitivo e arcaico dos fenômenos psíquicos. A neurose deixa de ser vista como contingente e passa a ser forçada. Porém, isto leva a perda da psicopatologia, o que constitui um dos perigos atuais da psicanálise.
Palavras-chave: Psicopatologia, neurose, vida sexual, psicanálise.
O papel da recusa nas relações entre o narcisismo e a perversão
(The role of the refusal between the narcisism and the perversion relationship)
Emilse Terezinha Naves
O presente artigo pretende discutir as relações existentes entre narcisismo e organização sexual perversa e, nessa articulação, entender também qual é o papel do mecanismo da recusa no desenvolvimento da referida relação.
A recusa da percepção da castração leva o indivíduo a uma recusa de se reconhecer marcado pela falta, que é vista como uma ferida narcisista insuportável. Isto demandaria, de um lado, reforçar as defesas narcísicas e, de outro, buscar relações infiltradas de núcleos perversos. Esse funcionamento levará, conseqüentemente, a uma cisão do ego, o que nos indica uma vulnerabilidade à psicose. O paciente situa-se entre os limites de uma perversão e de uma psicose, e sob determinadas condições uma ou outra organização é privilegiada.
A apresentação de fragmentos de um caso clínico pretende contribuir para a compreensão mais ampliada da questão proposta.
Palavras-chave: Narcisismo, perversão, recusa, psicanálise.
Erasmo: o Estranho da loucura criminal
(Erasmus: the strange of criminal madness)
Maria Fernanda Tourinho Peres
Neste artigo, pretendemos trazer à discussão os mecanismos de controle social que se desenvolveram em torno dos doentes mentais criminosos, sob a forma de saberes e práticas institucionalizadas. Tais saberes e práticas organizam-se segundo as estratégias médico-psiquiátrica e jurídico-penal. Através da reconstrução do caso de um paciente internado em um Hospital de Custódia e Tratamento, tentaremos demonstrar como se articula em torno da noção de periculosidade uma rede que envolve saberes, práticas, instituições e leis. Com isso podemos examinar a formação de uma nova subjetividade: o estranho sujeito da periculosidade.
Palavras-chave: Controle social, loucura criminal, hospitalização, saúde comunitária.
Los fondamentos y la persona
(The basis and the person)
Jorge J. Saurí
A loucura, qualquer que seja sua versão modal, é uma eventualidade do processo de personalização, não um acaso gratuito ou de azar, nem o efeito obrigatório de uma causa. Conhecê-la não é estabelecer seu porquê e seu como, uma vez que também é fundamental encontrar seu para que, isto é, seu sentido. O advento da inquietude pelo psicológico, bem como o ocaso do monismo materialista, desencadeou na psiquiatria uma crise onde a substituição do referente energético pelo substancial deu impulso a novos modos psicológicos, psicanalíticos e sociais de conceber as doenças mentais.
Palavras-chave: Loucura, psiquiatria, pessoa, fundamento
Clássicos da Psicopatologia
ARTIGO:
A introdução do conceito de ‘estados-limítrofes’ em psicanálise: o artigo de A. Stern sobre “the borderline group of neuroses”
(The introduction of the borderline concept in psychoanalysis: the article of A. Stern on “the borderline group of neuroses)
Mario Eduardo Costa Pereira
ENSAIO:
Investigação psicanalítica e terapia do grupo de neuroses limítrofes
(Psychoanalytical investigation and therapy of the groups of limit neuroses)
Adolf Stern
Resenha de Livros
Em parte alguma o mundo existirá
(No the world shall exist)
Elisa Ulhoa Cintra
Depressão
Pierre FédidaTrad. de Martha GambiniSão Paulo: Escuta, 1999
Resenha de Artigos
Pesquisas com neuroimagens sobre o autismo
Mario Eduardo Costa Pereira
Neuroimaging in autism
S. Deb and B. Thompson
The British Journal of Psychiatry (1998), 173, pp. 299-302
O papel do professor enquanto modelo na formação do médico
Mario Eduardo Costa Pereira
Role models – guiding the future of medicine
Kelley M. Skeff
The New England Journal of Medicine (1999), vol. 339: 27, p. 2015
O preço que o Homo sapiens paga pela linguagem
Mario Eduardo Costa Pereira
Precursors of psychosis as pointers to the Homo sapiens-specific mate recognition system of language
T. J. Crow
British Journal of Psychiatry (1998), 172, p. 289-290
Sobre a arte do bem envelhecer
Mario Eduardo Costa Pereira
Eugeria, longevity and normal ageing
K. Ritchie
British Journal of Psychiatry (1997), 171, p. 501.