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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 2, número 1, março de 1999
Editorial
Artigos
Catástrofe e representação. Notas para uma teoria geral da Psicopatologia Fundamental
(Catastrophe and representation. Notes towards a Fundamental Psychopathology general theory)
Manoel Tosta Berlinck
Este artigo comenta, de forma detalhada, o trabalho de Sigmund Freud, “Neuroses de transferência: uma síntese”, que é considerado pelo autor como uma teoria geral da natureza psicopatológica da humanidade. Nessa perspectiva, porque a humanidade está submetida ao desejo, a paixão a torna psicopatológica. A partir, então, do pressuposto de que o humano é uma espécie psicopatológica, o autor tece comentários sobre a nosologia freudiana, sua importância na atualidade e suas limitações, formulando, assim, um amplo projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido na psicanálise.
Versão modificada da conferência pronunciada no III Congresso Brasileiro de Psicopatalogia Fundamental, em abril de 1998.
A psicopatologia na pós-modernidade. As alquimias no mal-estar da atualidade
(Psychopathology in post-modernity. The alchemy in actuality malaise)
Joel Birman
A intenção deste estudo é a de circunscrever a especificidade da psicopatologia na pós-modernidade. Para isso, procura-se demonstrar as relações daquela com a medicina e as neurociências, assim como a sua recusa da psicanálise. Além disso, pretende-se mostrar como o interesse atual da psiquiatria nas pesquisas sobre as depressões, as toxicomanias e a síndrome do pânico pode ser interpretado a partir dos modelos de subjetividade promovidos pelo mundo pós-moderno.
Conferência realizada em Paris, na instituição La Psychanalyse Actuelle, em 5 de fevereiro de 1998.
As províncias da angústia (roteiro de viagem)
(The provinces of anxiety [a voyage itinerary])
Luís Claudio Figueiredo
O presente trabalho tem como propósito sugerir que, embora as teorizações freudianas relativas à angústia tragam as marcas da Matriz Funcionalista provenientes da funda inserção do autor no campo da biologia evolucionista do século XIX, aqui como em outras partes, a pesquisa psicanalítica leva Freud a romper com alguns dos pressupostos do funcionalismo. Basicamente, as ênfases na adaptação, na auto-equilibração e na temporalidade concebida em termos de evolução e desenvolvimento devem ceder terreno diante de uma consideração mais detida da angústia na experiência humana. É a partir daí que uma interlocução com os filósofos Heidegger e Lévinas pode ser procurada como meio de facilitar a emergência no próprio corpo teórico e clínico da Psicanálise de algumas perspectivas já entrevistas por Freud e que não poderiam ser plenamente acolhidas enquanto o pensamento psicanalítico permanecesse sob o domínio do funcionalismo.
Psicanálise do sensível. A dimensão corporal da transferência
(The psychoanalysis of the sensible. The bodily dimention of transference)
Ivanise Fontes
O artigo apresenta um resumo das idéias desenvolvidas pela autora em sua tese de doutorado intitulada “A memória corporal e a transferência”.
O fenômeno da transferência é colocado em evidência por favorecer o retorno das impressões sensíveis, devido ao seu aspecto regressivo alucinatório. Ela é propícia ao despertar da memória corporal do paciente e isso tem fornecido novos elementos para o tratamento de pacientes somatizantes, assim como de outras estruturas psíquicas.
A autora pretende, assim, restituir ao sensorial o lugar que ele merece na teoria e técnica psicanalítica.
O artigo resume as idéias desenvolvidas em tese de doutorado intitulada “La mémoire corporelle et le transfert”, orientada pelo Prof. Dr. Pierre Fédida, defendida pela autora em outubro de 1998 no Laboratoire de Psychopathologie Fondamentale et Psychanalyse – Université Paris 7.
Em busca do sofrimento histérico: a dimensão melancólica da histeria
(Searching hysterical suffering: the melancholic dimention of hysteria)
Adriana Campos de Cerqueira Leite
Pretendendo ver além da teatralidade e sedução na histeria, este artigo procura situar e desenvolver a hipótese de que a psicopatologia da melancolia pode constituir um paradigma para a compreensão do sofrimento na histeria.
Transitando entre a falta e o vazio, o sujeito que tem suas defesas histéricas desorganizadas pelo fracasso do ideal fálico modifica o seu discurso e, de alguém insatisfeito por não ter nada, passa a sentir-se alguém que não é nada.
Partindo de um material clínico relaciona-se a especificidade do sofrimento histérico à melancolia e ambos a uma problemática da feminilidade.
Este artigo foi elaborado no Laboratório de Psicopatologia Fundamental da UNICAMP no qual estamos desenvolvendo uma tese de doutorado sobre o mesmo tema. Essa tese está sendo realizada sob a orientação do Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira e conta com o apoio financeiro do CNPq.
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise
(Repeating the alien word, or How to think on this sympton in the company of psychoanalysis)
Ruth Palladino
Repetir a palavra alheia, ao lado do silêncio, é um dos sintomas mais freqüentes nas patologias da linguagem. Tradicionalmente denominada ecolalia, esta repetição é entendida como produção não intencional, inconsciente, que não é representativa de conhecimento objetivo da realidade. É apenas eco: uma fala que para nada serve. Desde uma perspectiva lingüística mais moderna, que toma a palavra como algo da instância discursiva (que aposta na polissemia da palavra e na heterogeneidade do sujeito), a repetição pode ter uma outra interpretação. Do interior do conceito de enunciação advém a idéia de incompletude do sujeito e da linguagem, determinando para a linguagem uma gênese que nada mais é senão o brotamento de um funcionamento do tipo simbólico em que a repetição fica como um acontecimento fundante. Resgatada por esta lingüística, a repetição permanece, entretanto, exigindo análise. A patologia de linguagem mostra uma repetição cujo destino é diferente: longe de notar uma ocorrência fundante, ela revela seu perverso poder, já que tira da palavra sua possibilidade em advir um dizer. Esta ocorrência passa a ter outra natureza e sobre isto a psicanálise tem muito a dizer.
A repetição, ocorrência fundante, perde seu caráter original e significa o patológico. Fica exorbitado o lado conservador das pulsões, esfumaçando a heterogeneidade do sujeito, interditando qualquer anarquia no funcionamento pulsional, fonte da diferença necessária. A palavra é uma invenção: pelo seu caráter polissêmico ela é sempre uma solução inédita. Quando a criança repete a palavra do outro é como se ela a fizesse sua, instaurando a diferença. Na patologia, diversamente, a criança não faz sua a palavra alheia e, assim, deixa de ser uma invenção porque fica destituída da possibilidade de instaurar o novo. Acaba a dialética condicional entre invenção/repetição, daí a morte da palavra.
Afeto e discurso racistas
(Affect and racist discourse)
Carlos Augusto Peixoto Junior
Este trabalho tem como objetivo abordar o tema do racismo através de uma análise que procura enfatizar seus aspectos discursivo e afetivo. Neste sentido, recorremos às teses de pensadores como Hannah Arendt e Michel Foucault para fundamentar uma perspectiva histórico-filosófica sobre o discurso racista, e ao enfoque psicanalítico para caracterizar as diferentes formas de expressão do ódio racista.
Trabalho apresentado no III Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, São Paulo/1998, como parte da mesa de discussões sobre “O discurso perverso e o preconceito”.
Considerações sobre o lugar do corpo na organização perversa
(Considerations on the place of the body in the perverse organization)
Edilene Freire de Queiroz
Este artigo inicia fazendo algumas reflexões sobre o sentido de corpo para a psicanálise, partindo do princípio de que ele é distinto do da Biologia. Traz para o foco da discussão, o homem como ser de linguagem e analisa a forma de inscrição das experiências no aparelho psíquico. Situa a problemática do perverso na imagem que ele guarda da castração do corpo do Outro. Por fim, apresenta as contribuições trazidas por Rey-Flaud quanto aos níveis de perversão, de acordo com a maneira do perverso lidar com o objeto.
El duelo: que modelización?
(Mourning: which modelization?)
Flora Singer
El tema del duelo no ha sido tratado en psicoanálisis en forma acorde a su importancia psicopatológica. Hay obstáculos epistemológicos para ello, que tienen que ver con el tratamiento del pasaje del objeto real del duelo a la in-terioridad de su pathos. La autora considera que una lógica paradojal y de lo negativo permite articular ese pasaje: contemplar la diferen-ciación entre realidad externa-realidad interna, pero también integrar la realidad externa en el análisis. Lo negativo está constituído, entre otros aspectos, por la compleja zona de intercambios entre la realidad externa del duelo y la realidad interna.
El modelo del duelo es un ejemplo de la importancia metodológica de una lógica pa-radojal y de lo negativo, que permite una permeabilidad en los límites de los modelos, por la cual se mantienen a la vez la especificidad del modelo y la integración de una alteridad, en este caso, la realidad del objeto del duelo.
Clássicos da Psicopatologia
ARTIGO:
O “automatismo mental” e a “erotomania”, segundo Clérambault
(The “mental automatism” and the “erotomania” according to Clérambault)
Mario Eduardo Costa Pereira
ENSAIO:
Os delírios passionais: erotomania, reivindicação, ciúmes
(Passional delusions: erotomania, demand, jealousy)
Gaëtan Gatian De Clérambault
Primeira concepção de um automatismo mental gerador de delírio: “Um caso de psicose alucinatória”
(First concepction of a mental automatism generating delusion: a case of hallucinatory psychosis)
Gaëtan Gatian De Clérambault
Automatismo mental e cisão do Eu
(Mental automatism and ego splitting)
Gaëtan Gatian De Clérambault
Resenha de Artigos
Estudo acompanha o quadro clínico de pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo durante quarenta anos
Mario Eduardo Costa Pereira
A 40 years follow-up of patience with obsessive-compulsive disorder
G. Skoog & I. Skoog
Archives of General Psychiatry
1999, 56: 121-127
A síndrome de Ekbom
Mario Eduardo Costa Pereira
Le syndrome de Ekbom
C. Giboin & S. Mantelet
Annales Médico-Psychologiques
1998, 156 (10); 649-658
Transtornos de personalidade como contra-indicação para transplante hepático na cirrose alcoólica
Mario Eduardo Costa Pereira
Personality disorder as a contraindication for liver transplantation in alcoholic cirrhosis
W. Yates, D. LaBrecque & D. Pfab
Psychosomatics
1998, 39: 501-511
O estigma da doença mental
Mario Eduardo Costa Pereira
The Lancet
1998, v. 352: 1049-1060
Epistemologia da psicanálise
Mario Eduardo Costa Pereira
Epistemology
Panel Reports
International Journal of Psycho-Analysis
1998, 79: 1213-1216
Os custos econômicos da depressão
Mario Eduardo Costa Pereira
The costs of depression
P. Panzarino
]Journal of Clinical Psychiatry
1998, 59 (suppl. 20), 10-14