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Volume 17, número 1, março de 2014

SUMÁRIO / CONTENTS

EDITORIAL

A dinâmica da psicopatologia: o caso da maconha

Manoel Tosta BerlinckNeste início de ano de 2014 a imprensa abriu espaços para tratar da maconha (marijuana, cannabis sativa). A novidade, em resumo, é que ela está deixando de ser droga ilícita e, pouco a pouco, passa a ser droga lícita.Só nos Estados Unidos da América 19 Estados se preparam para legalizar o consumo da erva, por decisão democrática resultante de consultas ao eleitorado. Neste caso, o povo é favorável à descriminalização da maconha e, nos EUA, a voz do povo perde só mesmo para a voz de Deus. Em vários deles, como no estado de New York (EUA), a maconha passou a ser considerada medicamento, como já havia ocorrido na Califórnia (EUA), e só pode ser consumida legitimamente acompanhada de receita médica.

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ARTIGOS

Causas “fracas” e redes causais complexas em psiquiatria

Luís Fernando S. C. de Araújo e Cláudio E. M. BanzatoObjetivos: Realizamos uma análise do conceito de causalidade aplicado em psiquiatria e propomos sua abordagem baseada nas ideias de influências causais fracas e de redes causais complexas. Método: Análise conceitual de artigos e livros selecionados. Resultados: Identificamos o modelo de causalidade INUS, proposto pelo filósofo J. L. Mackie que contorna algumas das dificuldades relacionadas à presença de múltiplas causas interdependentes, como parece ocorrer no caso dos transtornos mentais e mostramos que tal modelo se aplica bem ao TEPT. Conclusão: Sugerimos que o fracasso na busca de causas “fortes” para os transtornos mentais talvez indique a necessidade de revisão de nossas expectativas, com a adoção de modelos alternativos de causalidade. 

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Corpo-escrita na esquizofrenia

Marina BialerEste artigo aborda a importância do trabalho de escrita na esquizofrenia. Toma-se como ponto de partida a formulação lacaniana sobre o esquizofrênico como aquele que não tem as funções dos órgãos do seu corpo dadas pelos discursos estabelecidos. A hipótese de que o trabalho sobre a letra pode permitir o tratamento do gozo debordante na esquizofrenia é analisada pelo estudo da obra do escritor esquizofrênico Robert Walser, a qual evidencia a viabilidade da construção de um corpo pela escrita na esquizofrenia.

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Investigação psicanalítica dos determinantes psíquicos do consumo abusivo de substâncias psicoativas Cláudia Henschel de Lima  O artigo examina a relevância da psicanálise para a determinação do diagnóstico diferencial e para a direção de tratamento de usuários de substâncias psicoativas. Sustenta-se que o desencadeamento do consumo abusivo de substâncias depende de fatores estruturais: 1. na psicose, recurso à droga como variável dependente da foraclusão do Nome-do-Pai; 2. na neurose, recurso à droga como variável dependente da baixa operatividade do Nome-do-Pai.

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La acedia como forma de malestar en la sociedad actualMaria Lucrecia Rovaletti y Martin Pallares  Partiendo de la propuesta de Theunissen, se busca realizar un regreso arqueológico respecto al concepto de melancolía en la antigüedad y de acedia medieval. Con ello, se intenta reflexionar esa trama de fatiga, aburrimiento, tedio, tristeza que se entreteje en la cultura actual. Charbonneau y Legrand (2003) designan como paradepresiones a este conjunto de problemas a menudo infrasintomáticos, demasiado lábiles y poco significativos para ser denominados síntomas.

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SAÚDE MENTAL

ARTIGO

Saúde mental e vulnerabilidade social: a direção do tratamentoCarlos Alberto Pegolo da Gama, Rosana Teresa Onocko Campos e Ana Luiza Ferrer  O objetivo do texto é refletir sobre as relações entre saúde mental e vulnerabilidade social a partir do encontro da Psiquiatria Biológica com a Reforma Psiquiátrica. Problematizamos o conceito de saúde mental, o conceito de vulnerabilidade social, os manuais diagnósticos, as pesquisas epidemiológicas, tendo como pano de fundo as Políticas Públicas de Saúde. Identificamos a necessidade de superação da lógica técnico-científico tradicional incorporando a singularidade e saberes ligados aos sujeitos que são afetados pelo sofrimento.

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HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

ARTIGOPor um sangue bandeirante: Pacheco e Silva, um entusiasta da teoria eugenista em São PauloLia Novaes Serra e Ianni Regia Scarcelli  O intuito deste artigo foi o de analisar as contribuições do médico Antônio Carlos Pacheco e Silva para a consolidação de uma psiquiatria de cunho eugenista, nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo. Buscamos salientar também a influência do médico, e de outros integrantes da Liga Paulista de Higiene Mental (LPHM), na divulgação de teorias racistas para a exclusão social de menores denominados de “anormais”. Para tanto, utilizamos parte do material do acervo do Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Como conclusão, percebemos que a ciência eugênica, adaptada para as condições locais, serviu para a psiquiatria paulista, desse período, justificar as desigualdades sociais pelo discurso da biologia e legitimar práticas de internação de crianças, que por sua constituição genética obstruiriam a formação de uma “raça paulista”. 

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OBSERVANDO A PSIQUIATRIA

ARTIGOSuperando a falsa dicotomia entre natureza e construção social: o caso dos transtornos mentaisCláudio E. M. Banzato e Rafaela Zorzanelli  As revisões periódicas das classificações diagnósticas em psiquiatria sempre provocam intensos questionamentos que interrogam sobre a própria natureza dos objetos classificados. A pergunta recorrente é: os transtornos psiquiátricos existem de fato ou são apenas construções sociais? Neste artigo, procuramos esclarecer os pressupostos da posição essencialista e a do construtivismo social, e defender que existem alternativas conceituais, como o modelo dos tipos práticos, que nos permitem retirar o eixo central do debate nosológico da disputa natureza versus construção social. 

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PRIMEIROS PASSOS

ARTIGO

Sofrimento psíquico e trabalho

Sarah Rosa Salles VieiraO presente artigo aprofunda questões clínico-téoricas relacionadas especificamente ao trabalho docente e ao sofrimento psíquico a ele relacionado a partir da observação clínica e vivência grupal nos atendimentos terapêuticos ocupacionais realizados no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo “Francisco Morato de Oliveira” (HSPE-FMO). Partindo dos estudos acerca da Psicopatologia do Trabalho de Christophe Dejours, do trabalho docente e do relato de um caso clínico, caracteriza a problemática do sofrimento no trabalho, os sistemas de defesa contra este sofrimento, a ameaça à subjetividade do próprio trabalhador, as representações e conflitos vivenciados no trabalho docente, bem como a relação aditiva estabelecida como uma estratégia inconsciente de sobrevivência psíquica.

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RESENHA DE LIVROS

Revisitando las psicosis

Mario Betteo BarberisEl título, de alto voltaje declamativo, pone al lector ante un texto que promete una lectura plagada de sinuosidades. Mal-decir es decir mal, pero de una manera que destaca la parte maldita del psicoanálisis, ese espacio que ocupa la psicosis en la trayectoria de Freud y de allí en adelante. Como decía Bataille: “Hablamos en voz alta sin incluso saber qué son esos seres que somos. Y de aquel que no habla siguiendo las reglas del lenguaje, los hombres razonables que debemos ser aseguran que está loco. 

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Fenomenologia em Heidegger e o desafio da clínica DaseinsanalíticaDanielle Pisani de Freitas  Este livro é uma preciosa contribuição à fundamentação da terapia daseinsanalítica. Partindo do esclarecimento dos princípios da fenomenologia e do pensamento de Martin Heidegger acerca da existência humana (Dasein), adentrando em um encontro terapêutico exemplar com sensibilidade e familiaridade, Bilê mostra como estes fundamentos ontológicos estão imbricados no desenrolar-se ôntico e único da vida de pacientes, terapeutas e de cada um de nós. 

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MOVIMENTOS LITERÁRIOS“Preso por ter cão, preso por não ter cão!”, notas a partir de O alienista, de Machado de Assis. Editor Associado: Ricardo Telles de Deus Noemi Moritz Kon  A apresentação e a análise da famosa novela “O alienista” do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, publicada em 1882 em Papéis avulsos, serve aqui de suporte para uma breve discussão dos aspectos ideológicos e mercadológicos que orientam os atuais procedimentos diagnósticos e terapêuticos relativos às psicopatologias. Tais aspectos, corporificados nos manuais psiquiátricos, conformam e estabelecem um determinado discurso e fazer médicos, ao mesmo tempo que fabricam as drogas e as doenças mentais que supostamente combatem.

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INSTRUÇÕES AOS AUTORES

CAPA / COVER Capa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Elisa Von Randow. Barco. 2008. Caneta e guache. 14,5cm x 21cm.