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Volume 16, Número 1, março de 2013EDITORIALA universidade e a inclusão socialRenato H. L. PedrosaEm seu artigo1 de 1973 sobre o desenvolvimento da sociologia da educação superior (ES), Burton Clark coloca quais seriam os temas surgidos no estudo da educação superior americana, a partir de 1945. Os dois principais, segundo a análise: desigualdade na educação superior (incluindo classe social, raça, etnicidade e gênero) e impacto da experiência e transformações que a vida universitária teria sobre os estudantes que por ela transitam.Esse temas continuam centrais nos estudos sobre ES ao redor do mundo, e podem ser vistos sob um prisma ampliado, o da inclusão social. Além dos aspectos relacionados à desigualdade no acesso ou à vida estudantil, a premissa da inclusão social propõe a ES como fator essencial para a formação pessoal, preparando para o acesso pleno à cidadania e a oportunidades profissionais. É crescente o número de estudos que analisam o impacto da ES na vida adulta, em particular na expansão dos horizontes profissionais, formando uma tríade com os dois temas propostos por Clark: acesso, impacto da vida estudantil e trânsito para a vida adulta e profissional. 

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CONFERÊNCIAMorrer pela bocaSérgio de Gouvêa FrancoMichael Fassbender nasceu em Heidelberg, Alemanha, há 35 anos. Pai alemão e mãe da Irlanda do Norte; foi criado em pequena cidade da inglesa Irlanda. Sua performance no filme Um método perigoso, como Jung, pode ter eletrizado pela beleza e pelas posses de seu personagem, ou pode ter produzido repúdio por transar com a paciente Sabina Spielrein. No filme Shame, dirigido pelo negro Steve McQueen, Michael trafega pelos trens do metrô de Nova Iorque, interpretando Brandon e vivendo conflitos marcados pela solidão radical, pela impulsão ao sexo, pela impaciência e pela sofreguidão. Quando olha para a moça desconhecida, à frente, no banco do trem do metrô, os olhares se incendeiam, mas ela desaparece para retornar apenas na última cena do filme… No bar de frequentadores duvidosos, madrugada avançada, Michael/Brandon diz a outra moça sensual, correndo o risco de apanhar do homem que a acompanha: I want to taste you, tocando o seu sexo. To taste em inglês refere-se à comida, a experimentar pelo paladar; misturando sexo e comida, ele quer comê-la. 

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ARTIGOSSintoma e fenômeno na psicopatologia fenomenológica de Arthur Tatossian

Lucas Bloc e Virginia MoreiraAs noções de sintoma e fenômeno ocupam um lugar central na tradição da psicopatologia fenomenológica. Este artigo tem como objetivo discutir estas noções no pensamento de Arthur Tatossian. Elas contribuem para a construção de um modelo de psicopatologia e de clínica fenomenológica que prioriza a experiência. A liberdade do sujeito é considerada em uma dialética entre autonomia e heteronomia. Modos de assistência regidos sobre a noção heideggeriana de cuidado são desenvolvidos. 

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Resiliência e psicanálise: aspectos teóricos e possibilidades de investigação

Stela Araújo Cabral e Daniela Centenaro LevandowskiA resiliência é um conceito do campo da saúde que analisa os recursos saudáveis do indivíduo frente a situações adversas. Discutir suas possibilidades em diferentes contextos teóricos e clínicos constitui um debate construtivo e necessário. O presente trabalho apresenta os pressupostos deste conceito e discute as possibilidades de análise da resiliência segundo a perspectiva psicanalítica. Essa perspectiva investiga a resiliência através da análise dos aspectos intrapsíquicos do indivíduo, possibilitando uma nova interpretação do conceito. 

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Psicopatología psicoanalítica: un saber en la encrucijada

Miguel Angel Sierra RubioCon el objetivo de esclarecer la condición epistémica de la psicopatología psicoanalítica en el marco del saber freudiano, se analizan cuestionamientos previos sobre el campo psicopatológico y sus posibles modalidades relacionales con el psicoanálisis, la psicología clínica y la psiquiatría. Los resultados destacan la originalidad de la estrategia de Freud que, bajo el nombre del psicoanálisis, cobija un discurso racional sobre la experiencia del malestar subjetivo. 

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Anorexia nervosa e transmissão psíquica transgeracionalÉlide Dezoti Valdanha; Fabio Scorsolini-Comin e Manoel Antônio dos SantosO estudo investigou a transmissão psíquica em três gerações de mulheres de uma família – avó, mãe e filha, esta última com diagnóstico de anorexia nervosa. Utilizou-se como estratégia metodológica o estudo de caso familiar e o enfoque da transmissão psíquica para análise dos dados. Perceberam-se dificuldades e sofrimentos decorrentes de conteúdos psíquicos transmitidos sem elaboração na sucessão intergeracional, fomentando relações truncadas e conflagradas, veladas por segredos familiares e empobrecimento subjetivo.

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Melancolia, depressão e suas narrativasEder SchmidtOs diversos estados depressivos diferem em sua psicodinâmica e nas narrativas que originam. Há um “discurso depressivo”, onde o estado de ânimo é contextualizado, e os investimentos afetivos mantidos. Mas a capacidade de encadeamento de significantes depende do luto do objeto arcaico, luto esse impossibilitado na melancolia. Surge daí um “discurso melancólico” onde se observa uma ausência de historicidade para os afetos, em uma narrativa niilista e pobre em expressões fantasmáticas. 

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SAÚDE MENTALARTIGOBalizamentos éticos para o trabalho em saúde mental: uma leitura psicanalítica

Lilian Miranda e Rosana Teresa Onocko Campos Propõe-se uma reflexão teórica sobre balizamentos éticos para a prática clínica nos serviços substitutivos de saúde mental e apresentam-se conceitos da psicanálise freudiana e winnicottiana, discutindo-os à luz de depoimentos de sujeitos com diagnóstico de psicose. Ressalta-se a necessidade de que os profissionais sustentem uma posição paradoxal, marcada pela presença implicada na relação com seus pacientes e a suspensão de seus próprios desejos, posição esta que requer a existência de espaços coletivos no serviço, propiciando apoio e análise das relações intersubjetivas. 

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MEDICINA DA ALMAARTIGOEmbriaguez e males da alma: entre a mania e a melancolia

Paulo José Carvalho da SilvaEste artigo examina as relações estabelecidas no campo da medicina da alma entre a embriaguez e os males da alma. Parte da atitude ambivalente em relação ao vinho sustentada desde a Antiguidade para mostrar como no século XVIII explicações baseadas nas dinâmicas psicofisiológicas e tratamentos que faziam apelo à ordenação da razão com a vontade para o domínio dos apetites são substituídos por uma concepção propriamente patologizante do abuso da bebida. 

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HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA, POR GERMAN E. BERRIOSARTIGOO desenvolvimento inicial das ideias de Kraepelin sobre classificação: uma história conceitual

German E. Berrios e R. HauserA Psiquiatria ainda vive em um mundo kraepeliniano e os estudos sobre a obra de Kraepelin são, por conseguinte, ahistóricos. A exegese seletiva das várias edições de seu tratado levaram a uma visão rígida sobre sua contribuição. No entanto, Kraepelin viveu e escreveu durante um período importante da história intelectual da Europa e sua obra só pode ser entendida neste contexto. Este artigo analisa o desenvolvimento de suas opiniões em termos do “Programa de Pesquisas” que ele planejou precocemente em sua vida e cujo objetivo era a criação de uma descrição estável e da classificação das psicoses. Isso Kraepelin eventualmente alcançou estudando longitudinalmente coortes de pacientes em termos de critérios metodológicos, tais como o curso da doença e a incurabilidade. No caso, esta metodologia permitiu-lhe identificar por correlação “quadros clínicos” que tanto representavam a “essência” da doença quanto forneciam um critério taxonómico. Embora declaradamente ateórico, Kraepelin assim conseguiu construir (influenciado por Kahlbaum e por Wundt) um suporte empírico para sua categorização kantiana das psicoses. Uma discussão sobre as variáveis culturais que moldaram essas ideias está aqui incluída.

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PRIMEIROS PASSOSARTIGOO terapeuta afetado: hermenêutica como posição clínicaRicardo da Silva Lucante BulcãoO presente trabalho relata uma experiência clínica em um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Após o suicídio de um de seus pacientes, o autor se depara com a questão da suposta neutralidade do analista para compreender que está passando por um processo de luto. A questão clínica a ser levantada será referente à postura do terapeuta como ser “afetável” – em oposição ao cientista neutro que não se pode deixar tocar. Tal aspecto será analisado a partir da posição hermenêutica de Hans-Georg Gadamer (1900-2002). 

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RESENHA DE LIVROSA Anatomia da Melancolia – A primeira partição – Causas da MelancoliaRoberto KirshbaumAo bater os olhos no volume II da edição brasileira da Anatomia da melancolia, de Robert Burton, o leitor se depara com “A sinopse da primeira partição”, um diagrama em árvore que, ao explicitar as seções, membros e subseções em que este tomo se divide, percorre espantosas sete páginas, sendo que o ramo mais longo se estende por 16 níveis. Este diagrama ilustra visualmente a vastidão do terreno coberto por Burton. Se quisermos, ilustra sua obsessividade que, aliada a uma grande curiosidade, pode ser considerada como qualidade num autor psicopatólogo. 

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Histórico das Instituições de Psicologia no Brasil de A a ZAna Maria Galdini Raimundo OdaEntusiasta dos dicionários desde a infância, o escritor francês Anatole France (1844-1924) disse que o dicionário é “o universo em ordem alfabética”, o livro dos livros, onde estariam em germe todos os demais (a frase original, escrita para prefaciar um dicionário, hoje é replicada em dicionários de citações por outros admiradores de dicionários). Já os sentimentos do argentino Julio Cortázar (1914-1984) pelos vocabulários eram bem outros; no romance Rayuela (em português, O jogo da amarelinha), ele substitui sistematicamente a palavra ‘dicionário’ por ‘cemitério’ (assim, alguém “consulta o cemitério”), ironizando o espírito conservador que costuma governar os léxicos. Na verdade, parece que cada um deles preferia destacar certas qualidades inerentes aos dicionários: a fascinante possibilidade de conhecimento que prometem ou a cristalização semântica que ameaçam. 

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MOVIMENTOS LITERÁRIOSDevoração ou hospitalidade?Viviane Horta GenerosoNosso objetivo é elaborar uma relação entre a antropofagia de Oswald de Andrade e a questão da alteridade em Michel Foucault. Essas duas experiências salientam que a literatura possui uma relação secreta com aquilo que é absolutamente outro. Andrade sustenta que a antropofagia tem um sentido ambivalente na sua relação com o outro: rivalidade e identificação. Segundo Foucault, a experiência do dehors, experiência-limite da qual testemunha a literatura, é uma outra forma de encontrar um lugar de “hospedagem” para o outro, o que foi excluído pela razão ocidental. 

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INSTRUÇÕES PARA AUTORESCAPA / COVERCapa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Ricardo Bezerra. Retrato de Papai, 2011. Lápis e aquarela sobre papel, 21cm x 14,8cm.