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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 15, n. 2, junho 2012
EDITORIAL
Método clínico, ciência e subjetividade
Ana Maria Rudge
Muito alegre e honrada com o convite do editor da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, meu amigo Manoel Berlinck, para escrever o editorial deste número, não apenas pela excelência da revista, mas pelo vínculo de longa data com a Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, sociedade científica internacional da qual sou membro fundador, deparei-me com a dúvida de qual das vertentes de meu interesse e das experiências nesse rico intercâmbio no seio da Associação poderia privilegiar.
ARTIGOS
Le symptôme dans la psychothérapie d’unenfant dysphasique. Analyse de sa function dynamique dans une perspective psychanalytique
Julio C. Guillén et Catherine Dupuis-Gauthier
Dans cet article, à partir d’un cas clinique, nous analysons la spécificité de la prise en charge psychothérapeutique de l’enfant dysphasique. Notre objectif principal est de montrer comment la succession de moments logiques donne une place à chaque fois nouvelle au symptôme. L’étude du déroulement de la séquence clinique, permet d’interroger la valeur du symptôme et son lien indissociable à la parole, dans la relation transférentielle, pour rendre compte du processus de subjectivation à l’oeuvre chez cet enfant. En outre, ce travail amène à préciser la particularité de la démarche psychothérapeutique par rapport à celles des autres professionnels intervenant auprès des enfants dysphasiques.
Anorexia e melancolia
Mônica Assunção Costa Lima
O texto desenvolve a proposição freudiana, que se encontra no Rascunho G, de que a anorexia é a neurose paralela à melancolia. Propõe que o elo entre melancolia e anorexia deve ser buscado no campo do narcisismo. Explora quatro aspectos da melancolia que permitem a aproximação destas duas afecções, entre elas, a inibição, a perspectiva de uma instância crítica que se diferencia do eu e se volta contra ele, o sadismo com que essa instância crítica trata o eu, e a identificação do eu ao objeto.
A resposta sintomática na fobia: o amor em fuga no encontro com o gozo
Caio de Mattos Filho e Angélica Bastos
Este artigo aborda o sintoma fóbico segundo a psicanálise. Busca-se circunscrever como a sexualidade opera na formação do sintoma fóbico, entre os efeitos imaginários do amor e os campos do gozo e do desejo. Com a premissa de que o falo simboliza uma falta irredutível, a fobia é considerada uma resposta do sujeito entrincheirado entre o amor em fuga e o encontro com o gozo. O caso Hans permitirá situar a fobia como resposta à dissimetria amorosa e ao acossamento pulsional.
Intervenciones freudianas sobre el problema de la nervosidad: la neurosis de angustia como crítica al paradigma neurasténico de la modernidad de George M. Beard
Francisco Pizarro Obaid
El presente artículo analiza la crítica freudiana a la categoría de neurastenia, propuesta por George Beard. Primeramente, se exponen las hipótesis de Beard que asocian nerviosidad, civilización moderna y neurastenia; luego, se identifica la concepción freudiana de nerviosidad implicada en la categoría de neurosis de angustia. Al refutar los postulados de Beard, Freud no sólo hará un aporte a la psicopatología de su época, sino que otorgará un nuevo fundamento a la nerviosidad moderna.
Considerações sobre o diagnóstico precoce na clínica do autismo e das psicoses infantis
Paola Visani e Silvana Rabello
Este artigo se refere a uma pesquisa de Iniciação Científica. Esta se baseou na teoria de Marie-Christine Laznik para investigar, por meio do estudo de prontuários, como aconteceu em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil, localizado no município de São Paulo, o diagnóstico precoce do autismo e das psicoses infantis e como se deu a trajetória destas famílias até a chegada à instituição. A pesquisa revelou que o início do tratamento de crianças autistas e psicóticas se dá de maneira tardia em consequência da não realização da detecção precoce, da demora por parte de profissionais e/ou instituições de saúde em dar um diagnóstico formal e realizar um encaminhamento e da insegurança dos profissionais da saúde para lidar com estas psicopatologias graves. Os resultados desse trabalho ajudam a pensar ações futuras e necessidades de maior concentração de esforços para que o tratamento do autismo e das psicoses infantis possa acontecer de maneira cada vez mais precoce, frente a quadros não cronificados.
SAÚDE MENTAL
ARTIGO
O processo de trabalho na supervisão clínico-institucional nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
Gilson Mafacioli da Silva, Carmem Lúcia Colomé Beck, Ana Cristina Costa de Figueiredo e Francine Cassol Prestes
O objetivo deste estudo é descrever e analisar o processo de trabalho dos supervisores clínico-institucionais dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no Rio Grande do Sul, Brasil. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa. Os sujeitos foram dez supervisores, e a técnica de coleta de dados foi feita a partir de entrevistas semiestruturadas. Os dados foram submetidos à análise temática. Como resultados identificaram-se ferramentas utilizadas pelo supervisor como suporte para sua prática no processo de trabalho, destacando-se: o mapeamento do processo de trabalho no CAPS, a experiência profissional na clínica e na saúde pública, com ênfase no SUS, o uso da escuta e da palavra, e a construção coletiva dos casos clínicos.
OBSERVANDO A MEDICINA
ARTIGO
Sífilis por “exposição normal” e inoculação: um médico da equipe do estudo Tuskegee na Guatemala, 1946-1948
Susan M. Reverby
Entre 1946 e 1948, o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos (PHS) e a Oficina Sanitária Panamericana, com a colaboração de funcionários de saúde pública do governo da Guatemala, realizaram um estudo sobre o uso da penicilina como possível profilaxia para a sífilis, gonorreia e cancro. Os “sujeitos” do estudo – prisioneiros, doentes mentais e soldados gualtematecos foram inoculados com essas doenças e também pelo contato com prostitutas infectadas. A fraude foi parte do estudo e os abusos éticos foram discutidos no PHS. Os resultados do estudo não foram publicados.
CLÁSSICOS DA PSICOPATOLOGIA
ARTIGO
Dubois d’Amiens e a sua concepção sistemática da hipocondria e da histeria na França
Sophie Maurissen e Mário Eduardo Costa Pereira
Frédéric Dubois d’Amiens foi o vencedor do concurso da Sociedade Real de Medicina de Bordeaux em 1830, graças à apresentação da sua tese intitulada “História filosófica da hipocondria e da histeria”. De um ponto de vista existencial, sistemático e por meio de um método histórico-filosófico, ele propõe uma descrição inédita da hipocondria, pois descreve passo a passo a constituição do sujeito afetado, revolucionando assim as concepções médicas e psicopatológicas dessa doença. Apesar das diversas críticas que lhe são apontadas, Dubois d’Amiens reconhece à hipocondria, desde 1830, um sofrimento psíquico e físico específico e vê nela uma forma de pensar, enquanto que Freud a classificará mais tarde como uma neurose atual.
ENSAIO
História filosófica da hipocondria e da histeria (1833)
Frédéric Dubois d’Amiens
Um rápido olhar sobre as diversas denominações sucessivas impostas à hipocondria bastaria para ter a convicção de que ora se quis designar a sede precisa da lesão primitiva, verdadeiro ponto de partida dos fenômenos mórbidos, ora assinalar um sintoma predominante, podendo por si só constituir ou no mínimo caraterizar esta afeção.
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA
ARTIGO
As origens do alienismo no Brasil: dois artigos pioneiros sobre o Hospício de Pedro II
Manoel Olavo Loureiro Teixeira e Fernando A. de Cunha Ramos
O artigo discute dois trabalhos que, de forma pioneira,descreveram o funcionamento do Hospício de Pedro II, primeira instituição psiquiátrica do Brasil: L’hospice Pedro II et les Alienés au Brésil, de Phillipe-Marius Rey (1875); e Visite a L’sile de Pedro II a Rio de Janeiro, de François Jouin (1880). O contexto histórico de criação do hospício e seu funcionamento inicial são analisados. Sua construção é correlacionada à afirmação política do Segundo Reinado. Aspectos referentes à organização do alienismo no país e às características raciais da sociedade brasileira são abordados.
ENSAIOS
O Hospício de Pedro II e os alienados no Brasil (1875)
Philippe-Marius Rey
Uma recente viagem ao Brasil nos permitiu estudar a organização hospitalar deste país e especialmente o atendimento aos alienados. Durante a nossa estadia de um mês de duração no Rio de Janeiro, visitamos frequentemente o asilo, onde a recepção calorosa da diretoria facilitou esse estudo. O Dr. Goulart, médico chefe, teve a gentileza de desenhar um mapa das instalações. O secretário da Santa Casa da Misericórdia muito gentilmente nos forneceu os relatórios e as estatísticas de vários anos. O Sr. Diretor da casa de detenção nos mostrou em detalhes a área dessa prisão que é reservada aos criminosos alienados. Ficaríamos felizes se esses documentos e as nossas próprias observações, resumidos em uma breve apresentação,
chamassem a atenção para uma instituição que já é digna de interesse, e à qual a inteligência e a preocupação da administração proporcionam um forte desenvolvimento.
Uma visita ao Asilo de Pedro II no Rio de Janeiro, Brasil (1880)
François Jouin
Encarregados de uma viagem profissional médica a bordo do vapor Belgrano, da companhia dos carregadores reunidos, pudemos visitar a costa leste da América do Sul e relatar, a partir das nossas peregrinações, algumas noções interessantes sobre a patologia geral das afecções mentais dessas regiões, bem como sobre o funcionamento dos seus asilos.
RESENHA DE LIVROS
Um bebê plural e falante
Leda Mariza Fischer Bernardino
Nos últimos anos, passamos a ter acesso a uma literatura extensa sobre as chamadas “competências” dos bebês, que questionam as concepções mais clássicas de um bebê passivo e pouco provocador. Entretanto, nem sempre estas pesquisas – etológicas, cognitivistas, neurocientíficas – tiram as consequências clínicas de suas descobertas, apresentadas muito mais do ponto de vista descritivo, o que acaba tornando estas pesquisas um tanto quanto tautológicas: os autores parecem saber o que vão encontrar de antemão e a pesquisa se encerra com o encontro do resultado esperado.
MOVIMENTOS LITERÁRIOS
ARTIGO
Afinal, quem foi Sacher-Masoch?
Cassandra Pereira França e Julia de Sena Machado
O artigo pretende aprofundar o conhecimento a respeito do masoquismo, resgatando dados da biografia e da obra de Sacher – Masoch, com base na leitura de Gilles Deleuze. Lendo A Vênus das peles, constata-se que Sacher-Masoch explicita os aspectos formal, estético e contratual do masoquismo, propostos por Deleuze. Justifica-se a importância de se ler diretamente a obra de Masoch para se ter acesso a aspectos da lógica do masoquismo que não têm sido levados em conta nos estudos sobre o tema.
CAPA/ COVERCapa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Tiago Judas. Kipás, 2007. Serigrafia, 60cm x 60cm.