Revistas > Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental > Volumes > Volume 14, Número 3, setembro de 2011
EDITORIAL
Morte sem futuro e morte com futuro. A questão do tempo na morte
Lendo a tese de Doutorado de Sandra Luzia de Souza Alencar, A experiência do luto em situação de violência: entre duas mortes, defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no dia 20 de maio de 2011, lembrei-me de breve conversa que tive com uma balconista numa padaria.
Manoel Tosta Berlinck
ARTIGOS
Violência precoce e constituição psíquica: limites e possibilidades de representação no corpo
Partindo dos impasses da clínica contemporânea, procuramos nesse estudo refletir sobre os limites da representação e as atuações no corpo como tentativa extrema de inscrição de vivências de violência. São as marcas corporais que entram em cena, nos fazendo pensar em intensos afetos que permanecem fora do circuito associativo. Estas características nos remetem à clínica das origens cujo enfoque está nas experiências anteriores à aquisição da linguagem. É também contemplada a importância do outro na formação do psiquismo e na constituição de um corpo representado.
Palavras-chave: Corpo, violência precoce, constituição psíquica
Nataly Netchaeva Mariz
Silvia Maria Abu-Jamra Zornig
O corpo estranho
Frente às novas técnicas de manipulação dos corpos propiciadas pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia na contemporaneidade, este artigo discute as relações entre corpo, sexualidade e sintoma, a partir das contribuições da psicanálise. Discute-se, em especial, o fenômeno do transexualismo tal como vem sendo abordado atualmente, em virtude da adoção de procedimentos na área da saúde pública que visam atender à demanda de mudança de sexo por meio de técnicas hormonocirúrgicas.
Palavras-chave: Corpo, sexualidade, sintoma, transexualismo
Doris Rinaldi
Oliver Sacks e a “neurofenomenologia do self”
A neurologia é um ramo da medicina que busca estudar uma diversidade de distúrbios neurológicos tais como perda da fala, da linguagem, da memória, da visão, da percepção dos sentidos e da identidade, entre outros distúrbios, e construiu um conjunto de conhecimentos específicos, sobretudo a partir do desenvolvimento da tecnologia médica através de modernos aparelhos de imagem cerebral. Este trabalho objetiva analisar as contribuições do neurologista Oliver Sacks a partir daquilo que ele definiu como uma “neurofenomenologia do self”, da subjetividade, da identidade e da imagem corporal. Evidencia-se a abordagem fenomenológica em conjunto com as contribuições da neurologia e ressalta-se o papel da subjetividade buscando novas narrativas da mente.
Palavras-chave: Neurofenomenologia, self, subjetividade, identidade, imagem-corporal
Sergio Gomes da Silva
O ato na adolescência como resposta à inconsistência do Outro
Pretende-se, pela articulação teórica de um caso clínico, analisar a incidência do ato e a referência frequente, nos discursos dos adolescentes, à influência das “más companhias”. Para tal, utiliza-se a discussão ética de Lacan em seus Seminários dos anos 1959-1960 e 1968-1969. Conclui-se que o ato na adolescência é uma resposta possível ao que se mostra como inconsistência no Outro e visa, sob o modo da transgressão, atingir o que Lacan associa a das Ding freudiana. Indica-se, ainda, que tal resposta é reveladora do próprio desejo, o que estabelece uma direção para o trabalho clínico.
Palavras-chave: Adolescência, ética da psicanálise, Lacan, ato
Mirela Stenzel
Vinicius Anciães Darriba
A psicopatologia como uma experiência da alma
Este trabalho teórico apresenta a visão do psicólogo arquetípico James Hillman sobre a psicopatologia. Ele defende que “patologizar” é um movimento da psique válido, necessário e autêntico, que permite um encontro com a alma e com os sentidos e que deve ser compreendido metaforicamente. Sua visão se contrapõe ao modelo médico e nominalista dominante, que tem uma visão literal da psicopatologia e que acaba por afastá-la dos sentidos, da alma e do próprio sujeito. A crítica maior de Hillman é sobre a relação literal da psicologia com as palavras e termos psicopatológicos.
Palavras-chave: Psicologia arquetípica, psicopatologia, loucura, alma
Anna Paula Zanoni e Carlos Augusto Serbena
SAÚDE MENTAL
Artigo
Oficina do ócio: um convite para o sujeito
O presente artigo apresenta uma reflexão teórica sobre o lugar das oficinas terapêuticas no campo da saúde mental. Acreditamos que os novos espaços oferecidos à loucura na sociedade contemporânea possibilitam a produção de novos dispositivos clínicos. Assim, problematizamos a ideia laboral subjacente às oficinas terapêuticas para apresentar a ideia de uma oficina do ócio, que convoca o sujeito ao seu espaço de liberdade.
Palavras-chave: Loucura, psicanálise, sujeito, oficina terapêutica
Sonia Alberti, Adriana Cajado Costa e Jacqueline de Oliveira Moreira
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA
Artigo
A experiência da loucura segundo o espiritismo: uma análise dos prontuários médicos do Sanatório Espírita de Uberaba
Este trabalho tem como objetivo apresentar, a partir da análise dos prontuários de internamento de uma instituição destinada ao tratamento de alienados administrada por seguidores do espiritismo, as concepções particulares sobre saúde, doença e loucura produzidas por essa doutrina e o modo pelo qual elas eram transpostas para o interior de uma instituição de caráter asilar, o Sanatório Espírita de Uberaba, no Brasil da primeira metade do século XX.
Palavras-chave: História da psiquiatria, história do espiritismo, loucura, prontuários médicos
Alexander Jabert e Cristiana Facchinetti
HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA, POR GERMAN E. BERRIOS
Artigos
A síndrome de Charles Bonnet e o problema dos transtornos de percepção visual nos idosos
A literatura, clássica ou recente, sobre os transtornos de percepção nos idosos é revisada. A utilidade do conceito de Síndrome de Charles Bonnet, um epônimo originalmente proposto para descrever as alucinações visuais nos idosos na ausência de prejuízos cognitivos e de oftalmopatia periférica é contestada, principalmente devido à síndrome ter sido progressivamente ampliada. Descrevemos três casos representativos de pacientes idosos que desenvolveram diferentes tipos de transtornos de percepção visual. Propomos a condução de estudos sistemáticos da frequência de tais transtornos nos idosos e de quais outras patologias, particularmente cognitivas e visuais que possam estar associadas a eles.
Palavras-chave: Síndrome de Charles Bonnet, alucinações visuais – história, alucinações – fisiopatologia, percepção visual
German E. Berrios e Peter Brook
Alucinações táteis: aspectos conceituais e históricos
Uma breve análise histórica do conceito geral de alucinação é apresentada e sugere-se que ela surgiu como a generalização injustificada de um modelo perceptual que estava destinado a ser aplicado apenas para a visão e os “sentidos de distância”. Neste contexto, considera-se a evolução das alucinações táteis e explora- se sua interação com a teoria psicológica vigente no século XIX. Conclui-se que as alucinações táteis são fenômenos sui generis que não se encaixam no modelo convencional e que a identificação de seu quadro clínico baseia-se, até o momento, em critérios pouco claros. Apresenta-se uma breve revisão da sua taxonomia e utilidade diagnóstica. Algumas implicações mais amplas são delineadas, as quais podem ser relevantes para a concepção geral da alucinação.
Palavras-chave: Alucinações táteis, psicopatologia do tato, alucinações – história, alucinações – diagnóstico
German E. Berrios
RESENHA DE LIVROS
Feios, sujos e malvados sob medida: a utopia médica do biodeterminismo, São Paulo (1920-1945)
Os pesquisadores que hoje estudam as causas do comportamen- to criminoso ou violento e antissocial, mobilizando marcadores bioló- gicos – genes, hormônios e imagens cerebrais – como elementos componentes da personalidade individual que devem ser traduzidos em riscos sociais, recompõem o fio de uma longa história.
Flavio Edler
Comentário sobre a tradução de Paulo César Souza das Obras completas de Sigmund Freud
Em sua homenagem ao texto “A tarefa do tradutor” de Walter Benjamin, Jacques Derrida reinterpreta o mito bíblico da Torre de Babel para ilustrar o double bind, possibilidade/ impossibilidade, da tradução (Derrida, 2006). Para o filósofo da desconstrução, o pecado dos homens da tribo Shem (do hebraico, nome) foi o de querer impor seu nome e uma língua universal a todas as outras tribos.
Betty Bernardo Fuks
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CAPA / COVERCapa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Claudio Matsuno. Da série Mandrágoras (A), 2011 (detalhe). Caneta dourada, grafite, spray, letraset e grampos sobre papéis diversos. 56cm x 70cm.