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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 1, número 1, março de 1998

SUMÁRIO / CONTENTS
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Editorial

A Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental é uma publicacao do Laboratorio de Psicopatologia Fundamental do Núcleo de Psicanalise do Programa de Estudos Pos-Graduados em Psicologia Clinica da Pontiffcia Universidade Catolica de Sao Paulo (PUC-SP), do Laboratorio de Psicopatologia Fundamental do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciencias Medicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Rede Universitaria de Pesquisa em Psicopatologia
Fundamental.

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Artigos

Tenor de la terapéutica

Jorge J. Saurí

Um dos tópicos centrais da práxis psiquiátrica é o relativo à terapêutica, especialmente quando esta palavra é objeto de usos e abusos, tendo especial importância tratar de estabelecer o mais acuradamente possível seu teor, ou seja, sua constituição firme e estável. Terapêutica, a partir de sua etimologia, designa uma atividade de preocupação e cuidados no contexto do amor e na manutenção de um determinado ordenamento.  O mal estar esperançoso, a demanda e a aceitação, fazem dela uma tarefa compartilhada. Pode se nela distinguir dois momentos estruturais: um constitutivo, com busca de significações compartilhadas entre terapeuta e paciente e, outro, operativo, com o salmo, o fármaco e o acompanhamento.


O salmo evoca a proteção amorosa que não atua no somático e, sim, ao nível interpessoal afetado pelo dano.


O pharmakon abarca não menos do que quatro significações: droga, tintura, escritura e objeto numinoso. Como droga, podemos notar suas virtudes ambivalentes: se, por um lado, pode lutar contra o mal em favor da vida, por outro, pode também provocar a morte. Como tintura, modifica a aparência, fazendo com que uma coisa pareça outra. Como escritura, favorece a lembrança, mas incita o esquecimento. Como objeto numinoso, pharmakos desempenha um papel expiatório.


Mas o salmo e a prescrição de um fármaco não são suficientes; para que a terapêutica seja eficaz, faz se necessário um acompanhamento.
São estes, pois, os eixos em torno dos quais se estrutura a terapêutica, fazendo dela mais do que um serviço destinado à cura, um caminho acompanhado de aprofundamento da existência.

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A fala e o pharmakon

Pierre Fédida

A partir da generalização crescente do uso dos psicotrópicos, o autor se propõe a pensar o tratamento psíquico pelo químico. Supõe, então, a existência de um psicotropismo que eliminaria aquilo que do psíquico faz sintoma na tentativa de curar se. Como conseqüência,não mais seria necessário, nestas condições, falar de sintoma, não apenas pela assintomatização da vida psíquica, mas por uma menor necessidade de conceber uma “demanda subjetiva” – transferencial – que leve ao trabalho necessário de rearranjo das representações e afetos.


Enquanto a psicofarmacologia era bastante solidária com uma psicopatologia, a neurofarmacologia se tomaria por mais científica, a ponto de se emancipar de qualquer conhecimento dos disfuncionamentos psicopatológicos do indivíduo, já não lhe sendo mais necessário regular se por uma clínica dos processos.


Como ficariam, então, a semiologia psiquiátrica e o espírito nosográfico? Como ficaria a psicopatologia? E, em última análise, como ficaria a psicanálise até então protegida, de alguma forma, pela psiquiatria?

O que se procura então, é, antes de tudo, esclarecer o enigmático “tratamento psíquico pelo psíquico” e determinar as condições segundo as quais a fala, como um pharmakon, propicia ou não para si os meios de interiorizar uma ação medicamentosa.

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O que é psicopatologia fundamental

Manoel Tosta Berlinck

Se para os romanos, posição significava lugar onde uma pessoa ou coisa estaria colocada, para os gregos, a noção de posição é de natureza muito mais relacional. Da posição determinada pela postura do corpo, diferenciavam pelo menos duas outras: a do historiador, que não inventa, apenas ouviu falar por aí, e a do teatro, que mostrava o corpo humano em um estado natural de pathos (sofrimento).


Ao se pensar o psiquismo e o aparelho psíquico como prolongamentos do sistema imunológico e já que, segundo o autor, pathos é sempre somático, a psique é, seguindo a tradição socrática, estritamente corporal. É próprio, pois, à Psicopatologia Fundamental, reconhecer a existência de múltiplas posições corporais-discursivas e reconhecer que aqueles que ocupam outras posições reconheçam a especificidade de sua posição.


A partir do conceito de posição, e seus desdobramentos em pathos e logos, o autor desenvolve sua concepção de Psicopatologia Fundamental.

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Formulando uma Psicopatologia Fundamental

Mario Eduardo Costa Pereira

O presente trabalho busca situar a Psicopatologia Fundamental em relação ao contexto atual da psicopatologia e delimitar seu âmbito científico naquilo que ela traz de original na discussão psicopatológica.


Inicialmente, o campo da psicopatologia é estudado em relação à formalização proposta por Karl Jaspers em termos de uma psicopatologia geral. Em seguida, discute-se a incidência específica da psicanálise nesse debate.


Propõe-se que a tarefa da psicopatologia fundamental tem três frentes principais: 1) o trabalho de constante delimitação teórica entre as diversas disciplinas envolvidas no campo da psicopatologia, o que implica uma perspectiva histórica e crítica; 2) a teorização do papel dos modelos e paradigmas na constituição tanto do campo da psicopatologia quanto do dispositivo epistemológico de formalização do objeto psicopatológico; 3) resgate da dimensão de implicação subjetiva na constituição do sofrimento psíquico e estudo das perspectivas clínicas decorrentes de tal postura ético-epistemológica.

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Autismo e defesa primária: questões sobre o sujeito e a transferência

Lou Muniz Atem

Este artigo pretende discutir a clínica do autismo a partir de aspectos referentes à transferência e ao surgimento do sujeito.


O autismo, momento da constituição anterior à formação da “imagem corporal” e do “eu”, é um momento onde não podemos ver um sujeito constituído. A falta de olhar, de linguagem, o isolamento ativo, a recusa ao outro, nos fazem ver uma criança para quem as instâncias da consciência e do inconsciente não estão ainda instituídas.


Na transferência pode ocorrer um desinvestimento por parte do analista, o que fará obstáculo à continuação do tratamento. É preciso que o analista possa permitir a continuidade do circuito pulsional, supondo sempre um sujeito, mesmo onde ele parece não querer existir ou se fazer mostrar. Disto, resulta a possibilidade de todo tratamento do autismo.

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Uma reflexão sobre a psicose na teoria freudiana

Joyce M. Gonçalves Freire

O objetivo deste artigo é trilhar o movimento do pensamento freudiano em relação à psicose. A princípio, o tema da psicose – em especial a paranóia – é desenvolvido por Freud no interior de sua concepção sobre as neuroses, portanto, no terreno da repressão (Verdrängung) para, posteriormente, encontrar sua especificidade conceitual na rejeição (Verwerfund) e na recusa (Verleugnung), conceitos estes tributários das especulações freudianas sobre o narcisismo e a elaboração da, assim chamada, segunda tópica. É também discutida a questão da dificuldade da clínica freudiana para as psicoses pela impossibilidade da transferência.

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Entrevista com um vampiro

Júlio César Cordeiro do Nascimento

O artigo relata uma entrevista inicial de análise, onde um discurso queixoso e estereotipado acerca da homossexualidade dá lugar a um primeiro pedido de análise.


A partir de fragmentos clínicos e elementos teóricos o autor vai questionar a tentativa falaciosa de compreender todo o sofrimento psíquico pela via de uma categoria identitária (homossexualidade) que, a rigor, é externa ao dispositivo analítico. O analista se abstendo de qualquer valoração desta preferência amorosa desobtura sua escuta e permite a associação livre, abrindo espaço para o início da rememoração e para a emergência de outras significações e outros sofrimentos.

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A trajetória de um autista e suas implicações com a temporalidade

Marília Amaro da Silveira Modesto Santos

Este trabalho se propõe a relatar a longa trajetória de um menino autista, no que diz respeito ao estabelecimento da noção de tempo.


Usando referenciais teóricos winnicottianos, procuro mostrar como o autismo é a evidência de um “não tempo”, de um processo que estagnou para se proteger de vivências terroríficas, vazias de qualquer sentido de significado.


Utilizando histórias que funcionaram durante muito tempo e de várias formas como o único elo de ligação entre nós, Lucas passa da utilização do ritmo (meu ritmo de leitura) a uma utilização do conteúdo para estabelecer dentro de si o tempo. Tempo de processo, tempo de mudança, tempo de vida.


A sua posição diante da vida, muda. Lucas revela interesse pelo seu ambiente. Depende muito de minha adaptação e da minha habilidade para compreendê-lo e dar sentido ao que viver, agora. Num tempo de descobrimento.

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Psicossomática, uma “saída” fora da estrutura

Milton Lopes de Souza

A partir da experiência psicopatológica do atendimento a pacientes acometidos de patologias somáticas, o autor ensaia algumas elaborações acerca dos conceitos de estruturas psíquicas em psicanálise, no que tange às manifestações psicossomáticas. Propõe o psicossoma ou aparelho psicossomático, em oposição ao termo aparelho psíquico, numa tentativa de dar conta da complexidade e da unidade biopsicofísica que constitui o ser humano.

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Resenha de Livros

Contribuições à psicopatologia dos ataques de pânico

Maria Cristina Rios Magalhães

Pânico: Contribuição à psicopatologia dos ataques de pânico

Mario Eduardo Pereira Costa

São Paulo: Lemos Editorial, 1997.

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Sobre o jeito cepeliano de avançar na construção de uma clínica psicanalítica

Maria Cristina Kupfer

Autismos

Paulina S. Rocha (org.)

São Paulo: Escuta, 2007. 

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O texto que insiste ou a insistência sobre Freud

Daniel Delouya

Freud: Um ciclo de leituras
Silvia L. Alonso e Ana Maria S. Leal (orgs.)
São Paulo: Escuta, 1997.

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