Revistas > Latin American Journal of Fundamental Psychopathology Online > Volumes > Volume 3, Número 1, maio de 2006
1. O corpo vivido na esquizofrenia no Brasil e no Chile
Virginia Moreira e Georges Daniel Janja Bloc Boris
Este artigo discute
resultados parciais de uma pesquisa transcultural sobre a experiência de
corpo vivido na esquizofrenia, cujo objetivo foi identificar se há
diferenças relacionadas às culturas do Brasil e do Chile no que se
refere ao significado do corpo na experiência esquizofrênica. Foram
realizadas entrevistas com uma amostra de 50 pacientes de ambos os sexos
diagnosticados como psicóticos esquizofrênico-paranóides em hospitais
psiquiátricos (20 no Brasil e 30 no Chile), de acordo com o critério
clínico e o DSM-IV. O método fenomenológico crítico foi utilizado para
compreender o significado da descrição do corpo vivido. Os resultados
mostram que o significado do corpo vivido na experiência esquizofrênica é
diferente no Brasil e no Chile. Para os brasileiros, o significado da
experiência de corpo encontra-se na interseção da espiritualidade com a
ordem psicopatológica, enquanto que, para os chilenos, este significado
pertence apenas ao domínio da psicopatologia, o que se articula com
aspectos socioculturais de cada país.
Palavras–chave: Esquizofrenia, fenomenologia, corpo, cultura, sofrimento psíquico.
Recebido em 14 de março de 2006
Aceito em 30 de março de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
2. Um corpo que dói: considerações sobre a clínica psicanalítica dos fenômenos psicossomáticos
Leônia Cavalcante Teixeira
A clínica dos fenômenos psicossomáticos, no contexto das (re)orientações do poder terapêutico na atualidade, questiona a hegemonia do olhar biomédico característica dos recortes que incidem sobre o corpo. Abordaremos, neste ensaio, aspectos do mal-estar na atualidade a partir da psicopatologia somática e suas interrogações aos saberes e práticas da clínica do psicológico na perspectiva da psicanálise. Para tanto, iniciamos com uma breve reflexão acerca do corpo na perspectiva da psicanálise e da importância das relações primordiais para a constituição do equilíbrio psicossomático. Ressaltamos, nesse sentido, autores que trouxeram contribuições ao campo das psicopatologias somáticas. Em um segundo momento, é abordado o sofrimento psíquico em pessoas com neoplasia, considerando que o processo de adoecimento é historicamente construído, isto é, os modos de padecimento encontram-se circunscritos a saberes e práticas sócio-culturais, a modalidades de experiência do corpo, da dor, do prazer e até mesmo da cura. As implicações do mal-estar na atualidade trazem à tona as resistências dos saberes e práticas psicológicas a atribuir fundamental importância ao corpo na construção das subjetividades, especialmente quando são pelas corporeidades sofrentes nos campos dos fenômenos psicossomáticos, dos estados-limite, das depressões e da hipocondria que os sujeitos se apresentam à cena analítica. O repensar dos lugares do corpo no nosso momento civilizatório é importante para que as atuais versões do sofrer que acolhemos em análise possam ser contextualizadas na cena social. Ressaltamos que abordamos o câncer a partir da interface da medicina e psicanálise, privilegiando as psicopatologias orgânicas como referencial teórico-clínico.
Palavras-chave: psicanálise, psicopatologia, corpo, psicossomática, câncer.
Recebido em 3 de abril de 2006
Aceito em 24 de abril de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
3. O avesso da dor: uma reflexão sobre a influência do brincar como coadjuvante na cura de crianças com neoplasias
Ruth Helena P. Cohen
O presente artigo
visa apontar algumas questões trazidas pela psicanálise aplicada e
algumas conseqüências desse novo lugar que vem desafiando seu campo na
contemporaneidade. Temas relacionados à saúde de crianças vêm
encontrando respaldo na prática analítica, que vê possibilidades de
trabalho com os problemas que se inscrevem no coletivo, na polis. Para
tal privilegia o brincar, como um saber-fazer com o infantil, campo da
fantasia, já que se supõe que esta, protege, dá prazer e viabiliza
saídas para a dor psíquica. O tema do brincar encontra apoio em demandas
de tratamentos médicos necessários, mas que precisam submeter sujeitos
de tenra idade à práticas que modificam suas imagens corporais em
formação. O presente artigo visa apontar algumas questões trazidas pela
psicanálise aplicada e algumas conseqüências desse novo lugar que vem
desafiando seu campo na contemporaneidade. Temas relacionados à saúde de
crianças vêm encontrando respaldo na prática analítica, que vê
possibilidades de trabalho com os problemas que se inscrevem no
coletivo, na polis. Para tal privilegia o brincar, como um saber-fazer
com o infantil, campo da fantasia, já que se supõe que esta, protege, dá
prazer e viabiliza saídas para a dor psíquica. O tema do brincar
encontra apoio em demandas de tratamentos médicos necessários, mas que
precisam submeter sujeitos de tenra idade a práticas que modificam suas
imagens corporais em formação.
Palavras chave : psicanálise aplicada, criança, saúde e brincar
Recebido em 6 de abril de 2006
Aceito em 23 de abril de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
4. L’ être dans la separation: L’ identité conjugale
Junia de Vilhena
Les statistiques, la
littérature et les médias nous révèlent un nombre de plus en plus grand
de séparations et de modes alternatifs d’union conjugale. Néanmoins, ce
n’est pas parce qu’une situation psycho-sociale est plus communément
admise qu’elle élimine la possibilité d’un conflit psychique. En fait,
ce que nous observons le plus souvent sur nos divans, c’est la
répétition de différents clichés transmis par les médias dans le but de
dissimuler la souffrance que ce conflit engendre. C’est pourquoi nous
nous proposons d’étudier ici un peu plus profondément les mécanismes
psychiques qui sont à l´oeuvre dans le processus de séparation
conjugale. Qu’est-ce qui maintient uni un couple qui travaille souvent à
sa propre destruction? Qu’est-ce qui mène la victime à être complice de
son bourreau? Vaut-il mieux pour moi jouer lê role de poubelle des
angoisses de l’autre plutôt que de faire face toute seule à mes propres
angoisses?
Mots clés: separation, angoisse, narcissisme, castration.
Recebido em 3 de março de 2006
Aceito em 27 de março de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
5. Sofrimento e trabalho psicológico: reflexões sobre práticas no campo das interações pais, crianças e atendentes de creche
Mériti de Souza
O objetivo deste
artigo é problematizar os pressupostos do sofrimento psíquico e a
prática psicológica utilizada na escuta desse sofrimento. Para isto
utilizou-se o trabalho psicológico considerando as práticas
desenvolvidas no campo das interações entre mães, criança e atendentes
em uma creche pública. O escutar envolve o terapeuta desde um lugar
relacionado à produção de sentidos e de discursos.
Palavras-chave: sofrimento, prática psicológica, creche.
Recebido em 22 de fevereiro de 2006
Aceito em 10 de março de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
6. Dificuldades relativas à inclusão social das pessoas com deficiência no mercado do trabalho
Jacqueline Moreira de Oliveira, José Newton Garcia de Araújo e Roberta Carvalho Romagnoli
Este texto discute
alguns problemas relativos à inserção das pessoas portadoras de
deficiência (PPD) no mercado de trabalho, após a vigência do Decreto
3.289, que obriga as empresas a contratar esses sujeitos. Uma breve
reflexão histórica sobre o lugar social da deficiência sustenta a
hipótese de que a abertura de empregos para essas pessoas é um fenômeno
pós-moderno. Levantam-se questões sobre o sentido do trabalho, na
dinâmica psíquica e social desses sujeitos: como o trabalho afeta as
representações de si mesmo e as relações com o outro? Verificou-se que a
experiência do trabalho comporta vivências de satisfação e de
sofrimento, principalmente quando as empresas se limitam a cumprir os
aspectos legais da contratação, sem dar à pessoa com deficiência
condições efetivas de inclusão social, no ambiente de trabalho. Assim,
buscou-se compreender o “pathos” que permeia a condição da deficiência,
para além da própria deficiência.
Palavras-chave: pessoas com deficiência, trabalho, inclusão social, sofrimento no trabalho.
Recebido em 18 de janeiro de 2006
Aceito em 31 de janeiro de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
7. Sexualidade feminina e fantasias de espancamento
Graciela Bessa e Vera Lopes Besset
Embora Freud, em
1919, no texto Uma criança é espancada tivesse o intuito de discutir a
perversão masoquista, é possível abordá-lo em articulação à sexualidade
feminina. A análise das fantasias de espancamento, principalmente o
segundo tempo de sua construção, tem como propósito explorar o modo como
a satisfação masoquista se instala, na sexualidade feminina, a partir
da articulação entre a falta fálica e o complexo paterno. Essa
articulação instala um modo de satisfação pulsional no inconsciente que
direciona a escolha amorosa de algumas mulheres. Levanta-se a hipótese
do “ser espancada” como uma versão da menina à sua questão, dirigida ao
pai, sobre o que é ser uma mulher.
Palavras-chave: sexualidade feminina, fantasias de espancamento, satisfação masoquista, falta fálica, erotomania.
Recebido em 14 de fevereiro de 2006
Aceito em 22 de fevereiro de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
8. Melancolia: de Freud a Lacan, a dor de existir
Ilka Franco Ferrari
O trabalho aborda a
melancolia como uma psicose, estudada por Freud e Lacan, com as
diferenças implicadas no ensino desses dois autores. Para a trajetória
de estudo utilizou-se o que a autora denominou como “pontos cruciais”,
presentes nessa psicose e mencionados pelos autores de referência: o
supereu feroz, a culpabilidade e o sentimento de perda, constatado nos
desencadeamentos. A importância do objeto a e do gozo implicado é
considerada, já que a formalização dos mesmos favoreceu o estudo da
melancolia. A diferenciação entre melancolia e mania, como forma de
precisar as contribuições lacanianas, já que Lacan não considera a mania
como o reverso da melancolia, encerra o artigo.
Palavras-chave: melancolia, supereu, culpabilidade, perda de objeto, mania.
Recebido em 17 de março de 2006
Aceito em 6 de abril de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
9. Classes interativas e identificação em psicopatologia
Marta Regina de Leão D’Agord, Gabriel Inticher Binkowski e Felipe Bücker Chittoni
No decorrer da vida,
as sucessivas identificações imaginárias, desde que transpostas
discursivamente, são ressignificadas pela identificação simbólica, isto
é, a identificação orientada não mais pela unidade momentânea, mas por
traços sucessivos. Essas duas formas de identificação são analisadas a
partir de uma comparação com o conceito de eficácia simbólica. A partir
deste campo conceitual elabora-se a pergunta quanto ao tipo de
identificação que está em jogo nas classificações diagnósticas. Uma
classificação diagnóstica seria como um nome que organiza a experiência
subjetiva? Qual a eficácia que está em jogo nas classificações
diagnósticas consideradas do ponto de vista das classes interativas?
Palavras-chave: eficácia simbólica, classes interativas, identificação imaginária e simbólica.
Recebido em 16 de janeiro de 2006
Aceito em 20 de abril de 2006
Revisado em 10 de maio de 2006
Nominata
Os seguintes Consultores Externos emitiram comentários de artigos para o Volume 6, número 1, maio de 2006:
Betty Bernardo Fuks (PUC-RJ)
Clerton Martins (UNIFOR)
Edilene Freire de Queiroz(UNICAP)
Gisálio Cerqueira Filho (UFF)
Henrique Figueiredo Carneiro (UNIFOR)
Junia de Vilhena (PUC-Rio)
Leônia Teixeira (UNIFOR)
Leda Fischer Bernardino (PUC-Paraná)
Manoel Tosta Berlinck (PUC-SP)
Marta Gerez Ambertín (Universidad Nacional de Tucumán y Universidad de Buenos Aires)
Marta Regina de Leão D’Agord (UFRS)
Paulo Roberto Ceccarelli (PUC-MG)
Sérgio de Gouvêa Franco (UNIP)
Vera Lopes Besset (UFRJ)
Virgínia Moreira (UNIFOR)